Turquia

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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Na Soleira das Visões de Zózimo de Panópolis








Nas visões de Zózimo [cujo nome pode ser cunhado como "Zósimo"], um sacerdote explana a razão de seres serem torturados em água fervente e terem de escrever suas anotações em lousas de chumbo [isso seria matéria-prima para qualquer conto de Borges ou outro com seu talento]. Além do que, por esganadura [não física], levantavam as cabeças até que as úvulas de suas gargantas aparecessem. Coisa fantástica: Jung conseguiu ver nessa imagem [toda traduzida do grego por Marie Louise von Franz, o que lhe incomodava dizer, por isso não está dito no texto], uma descrição figurativa da "imaginação ativa". Aham, aham. Ora, pois. Forçação de barra desde a primeira imagem de Zózimo de Panópolis, hein senhor Jung? Estavas, porventura, "fazendo a sua própria imaginação ativa [=junguiana] com o sonho dele" [Zózimo] e "fazendo os pobres torturados dizerem que estavam procedendo a um exercício de imaginação ativa"? Forçação de barra, hein senhor Jung?

A imaginação ativa não deveria ser feita numa cadeira de dentista, nem numa estração de amídala, ainda que, nessas situações, o sujeito possa se "abstrair para fugir da dor" [uma dissociação, que só seria "benigna" se quem dissocia o faz por livre comando - o que não é o caso -, como em certos estados hipnagógicos autocontrolados], coisa bem diversa da assim-chamada imaginação ativa. Não é imaginação ativa por "n" razões, mas aqui friso uma só:"o comando vem de fora". Se assim for, quem comandou sua maginação ativa? Toni Wolff?


Estados hipnagógicos induzidos podem ser um bom proceedimento para dentistas, por exemplo, mas o comando não soa "torturante". Se uma criança tem sua amídala extraída "a frio", não há balinha rósea que a faça sorrir enquanto mostra a úvula, ou ter o que relatar de sua viagem interna enquanto a extração se dá. Assim sendo, a única razão para ver no comando do sacerdote um símile da imaginação ativa é que "quem comanda a imaginação ativa de alguém deveria ter a autoridade de um sacerdote". Se assim o for, quem foi o sacerdote externo de sua própria imaginação ativa? Sabemos que quem as acompanhou foi Toni Wolff, mas ela também lhe dava os comandos iniciais? Se assim for, a analisanda-amante se transfigurou em terapeuta-amante, levando-o a um lugar que ela nunca visitou [uma vez que o aforismo junguiano diz: "ninguém pode conduzir o analisando além de seu próprio processo analítico"]? Toni Wollf já estaria individuada, quase individuada ou pré-individuada além de vc mesmo, quando ela te procurou "enquanto analisanda", ou ela "te ultrapassou na própria análise, superando-o psiquicamente para poder ajudá-lo [num método pelo qual nunca paassara antes], contrariando este teu aforismo e subvertendo, ao mesmo tempo, a ideia de 'quem propõe o que a quem e tem a ideia a ser útil a outrem'"?

Nota: Relendo Alquimia [não só via Jung, mas também via Raphael Patai e vários outros], para fazer perguntas e aclarar ideias.





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