Turquia

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Sobre a religião e o riso

Tela da artista plástica Eli Heil


"Muitas doenças da alma decorrem do fato de que nos levamos a sério. Os demôios são sérios e graves. Deus é leve e ri. 'O riso é o início da oração' (R. Niebuhr)." - Rubem Alves

Houve um tempo em que eu não ria, tinha desaprendido, andava triste, cabisbaixa, não acreditava na beleza... Cheguei mesmo a pensar que o melhor era deixar de ser... Apesar de estar de mal com a vida, nunca deixei de amar as pessoas: a família e os amigos foram fundamentais neste processo de luta contra a depressão. Quando já estava levantando do torpor e reaprendendo o riso, ganhei, de uma amiga, um rosário trazido lá da terra de Madre Paulina. 

Não acredito nas religiões industrializadas e muito menos nas igrejas. Gosto de sonhar meu próprio Deus, inventar minha religião e meus rituais. Tenho minha maneira de conectar-me à energia divina: um banho de mar, uma caminhada... Fechar os olhos, sentir as batidas do coração, tirar os pés do chão, visualizar o universo, chegar até uma estrela, imaginar que a luz retorna a quem precisa... Existem alguns estudos sobre a etimologia da palavra religião, um deles diz que significa religação, algo como religar-se à própria essência, ao que é sagrado e divino.

Apesar de não acreditar nas instituições religiosas, não duvido da fé, ainda mais quando nos chega com gestos de amor... Respeito e admiro qualquer tipo de crença. A fé nos ajuda a persistir! Acredito que a energia do amor é capaz de transformar tudo! O poder curativo do rosário vem muito mais do amor que recebi da amiga do que objeto ou da bênção de alguém que nem sabe que existo!  Guardei o presente na caixinha do carinho.

Tempos depois, com a alma curada, sabendo rir novamente, tornei-me mãe: Helena chegou na minha vida, cheia de luz e alegria! Mais uma maneira de religação com o divino! Nunca ensinei religião à minha filha. A energia divina é presente e intensa nas crianças! As crianças não necessitam da gravidade da palavra! As crianças são a própria essência sagrada!

Quando Helena estava com dois anos, mais ou menos, abriu a caixinha do carinho e encontrou o rosário:

- Mãe, o que é isso?

- É um rosário, meu amor!

- E para que serve?

- Para rezar! - respondi sem me dar conta de que ela não sabia o significado da palavra "reza".

Colocou o rosário em volta da boca e deu uma gargalhada.

- Olha, mãe, eu "risei"!

Caí na gargalhada também! Com todo respeito às diferentes crenças religiosas, mas o Deus dos meus sonhos dá muito mais valor às risadas do que às rezas decoradas!

- Bianca Velloso -

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